24.5.07

O EXAGERADO LEGALISMO NA PRÁTICA DA POBREZA

1. Numa época em que a instituição religiosa se caracterizava pela opulência, não era fácil que os seus membros vivessem o verdadeiro espírito da pobreza evangélica.
2. Foi criada assim uma rigorosa e minuciosa legislação sobre o facto e o direito de posse do monge, com o objectivo claro de os negar (S. Bento, Inocêncio III);

3. A posse pessoal de bens torna-se, na Idade Média, um tabu, acarretando penas duríssimas (a ironia é que este processo culmina no papado de Inocêncio III, um dos momentos cimeiros do poder, opulência e ostentação);

4. Já nesta época (e o mesmo sucede hoje), os monges eram um dos grupos sociais mais protegidos face à pobreza e seus riscos, o que mostra a ineficácia da lei;

24.4.07

Pobreza e fraternidade, Primazia da fraternidade

A pobreza significa disponibilidade de tudo o que se é e de tudo o que se tem ao serviço desinteressado da fraternidade humana.
As palavras do Evangelho proclamam a primazia absoluta da fraternidade e exigem uma disponibilidade e um desprendimento tal nos filhos do Reino que os permita estar dispostos a perder todos os seus bens antes que negar o amor evangélico.
As riquezas do mundo são o maior obstáculo que se opõe à fraternidade. Quase todas as lutas entre os homens, nascem por causa dos bens do mundo.

A pobreza evangélica tem este sentido:
- Anunciar o verdadeiro significado dos bens deste mundo: ser para o serviço do amor ao homem
- Proclamar a primazia da fraternidade pondo ao serviço dela tudo o que se é e tudo o que se tem

Na vida religiosa, a pobreza, como sinal de fraternidade, expressa-se em duas dimensões distintas, com exigências diversas para cada uma delas:
- Na dimensão da comunidade religiosa
Pobreza = sinal de fraternidade evangélica
- Na dimensão da comunidade humana
Pobreza = sinal da fraternidade universal

20.4.07

POBREZA EVANGÉLICA E BENS MATERIAIS

a) Neutralidade dos bens materiais
A atitude espiritual de pobreza face a Deus e à sua salvação é o que constitui verdadeiramente a pobreza evangélica.
Assim, a pobreza de bens materiais não tem, por si mesma, nenhum valor evangélico.
Efectivamente, o mundo e tudo aquilo que nele existe, é bom (Cf. Gn 1, 10 ss). Tudo no mundo está em ordem ao homem.
Desta forma, a carência de bens materiais não pode ser desejável por si mesma.
a pobreza não se trata de ter ou não bens materiais, mas de viver por amor do Reino dos céus.

b) Oposição entre o espírito do Reino e o Espírito das riquezas
O evangelho estabelece uma clara oposição entre o Espírito do Reino e as riquezas, que se resume em duas antíteses:
· 1ª – A antítese das Bem-aventuranças segundo a versão de Lc 6, 20 ss.
· 2ª – A antítese do senhorio de Deus e do senhorio das riquezas, expressa claramente na sentença de Jesus em Mt 6, 24.

19.4.07

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Ismael
77-86

Rosário
86-92

Adelino
92-97

António Pedro
97-102

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Jean Paul
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123-125

Max
125-127

António Pedro
129-132

6.4.07

A POBREZA COMO SINAL DE FRATERNIDADE EVANGÉLICA

  • A constatação que o ideal que animava a comunidade cristã primitiva (Act 4,32) era irrealizável para a Igreja universal. Já em Corinto, Paulo lutava contra dificuldades neste domínio (1 Cor 11,20-22);
  • Este ideal renasceu com o monaquismo e permanece vivo na Vida Religiosa;
  • A comunidade religiosa procura imitar a comunidade das origens, tendo como princípio básico: ninguém considerar nada seu e tudo colocar em comum;
  • A vida religiosa, como sinal de fraternidade evangélica, exige uma incondicional partilha de tudo o que se é e se tem. Na base desta afirmação está uma exigência de amor: a comunidade de bens é sinal e expressão da comunidade de amor;
  • O mais importante é partilhar com os irmãos da comunidade tudo o que se tem;

A POBREZA, SINAL DE FRATERNIDADE UNIVERSAL

1. ANÚNCIO DO AMOR DO REINO MEDIANTE A POBREZA

  • Exigência de uma absoluta disponibilidade em favor dos demais;
  • Necessidade de mostrar o verdadeiro significado dos bens do mundo: servir o homem;
  • Exigência de que os mais necessitados sejam os beneficiários do nosso amor e dedicação: os bens da vida religiosa devem ser sempre bens dos pobres de Deus;

2. DENÚNCIA DO GRANDE OBSTÁCULO QUE SE OPÕE À FRATERNIDADE: A INJUSTIÇA SOCIAL

  • A justiça social é um princípio básico da fraternidade humana;
  • A justiça social é o primeiro passo em direcção ao amor e a primeira condição para a fraternidade;
  • A justiça social assenta no princípio que todos e cada um dos homens têm direito de dispor do necessário para viver e realizar-se dignamente como pessoas humanas;
  • A propriedade privada não constitui um direito incondicional e absoluto;
  • A injustiça social inverte os valores evangélicos, porque não se serve o homem;
  • A vida religiosa deve denunciar a injustiça social como consequência e exigência do testemunho do amor evangélico, que é anúncio da justiça do Reino:
  1. A importância histórica das obras de beneficência;
  2. A desactualização das mesmas obras de beneficência, que podem ser um insulto para a pessoa humana;
  3. A Vida religiosa é chamada a ser esperança e a defender os direitos dos pobres;
    * O anúncio da justiça do Reino e a denúncia da injustiça do mundo exigem à vida religiosa, como primeiro passo imprescindível, evitar toda a forma de injustiça social;
    * Algumas formas de injustiça social em que a vida religiosa cai frequentemente:
    o incumprimento dos deveres de justiça para com os empregados, trabalhadores e professores;
  4. Os bens mortos;
  5. O abandono a que são votados os sacerdotes e religiosos que deixam o estado sacerdotal e/ou religioso;

21.3.07

“CAMINHO DE INTEGRAÇÃO E DESINTEGRAÇÃO AFECTIVA”

CURSO DE FORMADORES
Fátima, 2007-02-05/09


Ø Algumas dificuldades na abordagem da temática:
- a sociedade não compreende a opção pela virgindade consagrada;
- são públicos diversos escândalos causados por pessoas consagradas;
- desistência de jovens religiosos/religiosas/padres;
- alguns tabus na abordagem da temática na formação.

Ø Diversas formas de encarar a castidade:
- algo penoso que é necessário suportar;
- um peso que é imposto a quem deseja consagrar-se a Deus;
- tema de que se tem receio de falar;
- ver a sexualidade como boa em si mesma, porque querida por Deus Criador;
- a sexualidade como capacidade de relação com os demais;
- a sexualidade é genitalidade, corporeidade e afectividade;
- castidade: energia consagrada ao serviço de Deus e do Reino.

Ø Visão da castidade na sociedade de hoje:
- apelo constante à satisfação imediata dos desejos;
- sociedade avessa à abnegação e à renúncia;
- positiva a queda de tabus que colocavam barreiras às relações interpessoais;
- valorização do corpo e da imagem da pessoa;
- sobrecarga de estímulos eróticos na sociedade: publicidade, comunicação social;
- renúncia e abstinência sexuais vistas como mutilação;
- dificuldade em aceitar o amor-gratuidade, relevando a satisfação;
- marcas light da sociedade: ausência de compromisso

Ø Vivência da castidade em confronto com a sociedade hodierna:
- viver uma castidade light, sem grande importância;
- sentir a castidade com castração/mutilação face à cultura do prazer/satisfação;
- viver uma castidade intermitente, com experiências de enamoramento/paixão;
- opção pela castidade por dificuldade da vivência do amor/comunhão com outro;
- opção pela castidade como fuga, complexo com o corpo/imagem;
- viver a castidade com dom de si mesmo, entrega a Deus, ao Reino, à Missão;
- assumir a castidade com consciência das limitações/tentações

Ø Imaturidade na vivência da castidade:
- falta de identidade sexual;
- dificuldade em aceitar a diversidade/alteridade – homossexualidade;
- dificuldade em sentir a sexualidade como algo natural;
- sintomas de analfabetismo afectivo;
- dificuldade em identificar sentimentos e estados de espírito;
- marcas de fixação afectiva, refúgio e negação de um amor universal;
- dificuldade de relacionamento com pessoas do sexo oposto, vistas como tentação;
- a pessoa a fugir de si mesma e dos problemas: refúgio no álcool e outros excessos;
- castidade estéril: não gera vida, não contribui para o crescimento dos outros;
- fecundidade desviada, fuga à relação, à vida comunitária e à missão;
- fecundidade temida: medo de se relacionar; boa observância, mas estéril.


Ø Vivência de uma castidade madura:
- da mera continência à renúncia por amor;
- valorização da renúncia: exercício activo da sexualidade, jogos eróticos,
amor privilegiado com uma pessoa, à paternidade/maternidade;
- castidade não é renúncia à amizade heterossexual;
- renúncia à actividade sexual, não à natureza do nosso corpo;
- não se renuncia à masculinidade/feminilidade;
- renúncia ao convívio de uma pessoa amada em exclusividade;
- renúncia a um amor concretizado na procriação;
- não há renúncia à amizade, ao amor, aos sentimentos;
- castidade assumida em liberdade: amar a quem se deve amar;
- consagrar-Se a Deus como único amor que verdadeiramente conta na
vida: viver a paixão por Deus e a paixão de Deus (os pobres, os marginalizados…);
- viver como pessoas transparentes e relacionadas;
- viver como pessoas inocentes (inocência que é pureza de coração, não ingenuidade);
- viver como pessoas coerentes e radicais: a opção feita reveste-se de dificuldade,
mas é para assumir com seriedade e radicalidade;
- vivência de um amor pobre: reconhecimento da própria fragilidade e das limitações,
em confronto com a grandeza do amor de Deus a que se consagra;
- vivência de um amor misericordioso, que perdoa, que quer bem aos inimigos;
- vivência de um amor pacificador: experiência da paz interior, testemunho de paz;
- vivência de um amor benigno e perseguido: capacidade para carregar a própria cruz,
ajudar os outros a carregar as suas ou carregá-las em vez deles.

Pe José Agostinho F. Sousa

16.3.07

Um tesouro...

"Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso." (2 Cor 4, 7)

28.1.07

Dimensão missionária do celibato pelo reino:

CAPÍTULO XV

CELIBATO-VIRGINDADE “PELO REINO DE DEUS”:

AMAR “COM TODO O CORAÇÃO


III. As quarto dimensões do celibato pelo Reino de Deus.

O celibato ou a virgindade pelo Reino de Deus é um aspecto que tem sido decisivo e definido na vocação da vida monástica ou religiosa, desde as suas origens. A aliança com Deus vive-se também na Vida Religiosa. A missão é também um compromisso tão sério como formar a família do reino que por ela se põe toda a afectividade e corporeidade ao seu serviço. Esta aliança pede-nos: “amar a Deus com toda a nossa interioridade, com o centro da nossa existência, com a nossa intimidade e com toda a nossa afectividade”. A primeira comunidade cristã, entendeu que o amor de Deus com todo o coração, traduz-se num amor comunitário e fraterno, que nos leva a ter todos “um só coração”. Isto é, um amor com todo o nosso coração voltado para os irmão e irmãs, donde manifestamos o nosso amor a Deus.

O celibato evangélico não é unicamente continência sexual, amor que se entrega e é capaz de dar a vida pelos que ama. È um amor que não forma uma família, um amor que surge de uma sedução. O amor com todo o coração verifica-se na Vida Religiosa em três dimensões: missionária, comunitária e ecológica.

1. Dimensão missionária do celibato pelo reino:

ao serviço e cuidado da vida.

O celibato “pelo reino” não tem unicamente o reino de Deus como fundamento. É uma forma de serviço para a causa do reino. Assim entendeu Jesus na sua vida e na comunidade que fundou.

a)Célibes pelo amor aos outros.

O celibato de Jesus e o celibato do cristão não aparece como um celibato ascético, que tem como objectivo o autoaprefeicoamento; é um celibato para a relação, a missão.

Assim como a pobreza fez Jesus perto dos mais pobres, assim o celibato o aproximou aos solitários da terra. O celibato revela-se assim em Jesus, como um aspecto singular do seu amor preferencial para com os mais pobres; um amor que se deixou marcado na sua própria carne. O que os outros eram por necessidade, ele foi por amor.

Jesus proclamou com o seu celibato que todo o homem, é chamado a formar uma única família dos Filhos de Deus. O celibato de Jesus continha uma provocadora força politica. Opunha-se a uma sociedade fechada, exclusiva e discriminatória.

b) O celibato como forma de opção pelos mais pobres e solitários.

Como seguimento de Jesus, o nosso celibato é também um modo de disponibilidade para trabalhar pela justiça, pelo amor, pela paz e fraternidade, pelos grandes valores do Reino.

O celibato-virgindade coloca em cada um de nós e em cada comunidade uma impaciente inquietude, que nos leva a comprometermo-nos até a morte para “que se reúnam os filhos de Deus dispersos”. Quem professa o celibato-virgindade evangélica sente-se afectivamente perto dos grupos marginais da sociedade.

O celibato pelo Reino é uma forma de superar o temor ao sexo oposto como tentação, para recuperar como companheiro ou companheira na missão libertadora do Evangelho.

O celibato pelo Reino supõe optar evangelicamente pela libertação do povo, e resgatar os oprimidos.

O celibato da virgindade pelo reino tem uma iniludível / evidente força profético-politica. Manifesta que o coração de Deus está, sobre todo, com os mais oprimidos dos seus Filhos para resgata-los e denuncia o poder do maligno.

O amor celibatário e virginal do reino inspira acções e iniciativas da generosidade em favor dos solitários e dos abandonados.

IV A PRÁTICA DO AMOR - ERICH FROMM

Como colocar em pratica de arte de amar?

Como se poderá aprender uma arte senão através da prática?

Na vida não se encontra instruções sobre como ser amado.

Amar é uma experiência pessoal que cada um tem de viver individualmente. São poucas as pessoas que não tenham passado por esta experiência (crianças, adolescentes e adultos).

Se analisarmos a prática do amor, permitirmos-à discutir a arte de amar, as formas de a abordar e de a pôr em pratica.

A prática de uma arte tem certos pré-requisitos, exige a disciplina.

Podia-se pensar que não há nada que o Homem moderno aprenda mais facilmente do que a disciplina. Ela passa oito horas por dia a trabalhar de forma disciplinada num emprego rotineiro. Mas, na verdade, o homem moderno tem muito pouca disciplina fora da esfera do trabalho.

Quando não esta a trabalhar, gosta de ser preguiçoso, quer descansar. Esta vontade de descansar é uma reacção contra a rotina da vida quotidiana.

O problema do homem moderno foi que começou a desconfiar da disciplina. Sem disciplina a vida torna-se fragmentada e caótica, sem qualquer concentração.

Concentração é a condição necessária para a execução de uma arte. Esta virtude é cada vez mais rara. É mais rara que a disciplina. A nossa cultura produz um modo de vida desconcentrado. Esta falta de concentração é evidente na nossa capacidade de suportar a solidão. Estar quieto, sem falar nem fumar, nem beber, nem ler é para muitos imposs´vel. Há uma necessidade de ocupar as mãos e a boca.

Qualquer pessoa que tenha tentado aprender uma arte sabe que a paciência é necessária para se produzir resultados. Quem quiser obter resultados rápidos nunca aprendera uma arte.

Para o homem moderno, a paciência é tão difícil de conseguir quanto a disciplina e a concentração. Todo o nosso mundo industrial se baseia no oposto: a rapidez. Todas as máquinas são concebidas para a velocidade.

Não se começa a aprender uma arte de forma directa, mas antes de uma forma indirecta. Começa-se por aprender uma grande quantidade de coisas, antes de se aprender a arte propriamente dita. Por exemplo um aprendiz de carpinteiro começa por aplainar madeira; um estudante de piano começa por fazer escalas, etc.

Quem se quiser tornar um mestre em qualquer arte deve dedicar-lhe poda a sua vida; ou, pelo menos fazer dessa arte um ponto fulcral (central) da sua vida.

Qualquer pessoa que queira ser um mestre na arte de amar deve começar por praticar a disciplina, a concentração e a paciência ao longo de toda a sua vida.

Como é que se pode praticar a disciplina?

Para os nossos avós, a disciplina, consistia em levantar-se cedo, trabalhar arduamente e não viver uma vida demasiado luxuosa. Levantar-se a uma hora razoável, dedicar algum tempo à meditação, à leitura, à música, a exercícios moderados, não comer nem beber de mais.

È essencial que a disciplina não seja praticada como uma regra imposta do esterior, mas que se torne uma expressão da nossa própria vontade.

É triste que o conceito de disciplina seja entendida como uma coisa desagradável e que só “faz bem” por ser desagradável. No oriente reconhece-se que aquilo que é bom para o ser humano, também tem de ser agradável.

A concentração é a virtude mais difícil de praticar na nossa cultura, onde tudo parece conspirar contra a capacidade de concentração. Um dos passos mais importantes para aprender é saber estar sozinho. Na verdade, concentrar-se significa ser capaz de estar sozinho consigo mesmo.

Parece paradoxal, mas, a capacidade de estar sozinho permite que se tinha a capacidade de amar.

No que diz respeito à nossa relação com os outros, estar concentrado significa sobretudo ouvir. A maior parte das pessoas ouve os outros e chega mesmo a dar conselhos sem estar realmente a ouvir.

Qualquer actividade que seja feita com concentração desperta-nos. Concentra-se significa viver intensamente o presente, o aqui e agora, sem pensar na próxima coisa a fazer enquanto estou a fazer outra.

A concentração também deve ser praticada. Ele exige por vezes a paciência. Um exemplo vivo da experiência é de uma criança, que quando começa a andar, vai caindo, caindo até aprender a andar sem cair.

Não se pode aprender a concentração sem cultivar a sensibilidade de si. O que é que significa? O exemplo disto é a reacção e sensibilidade de uma mãe em relação ao seu filho que encontramos o exemplo mais óbvio. A mãe nota certas mudanças, pedidos e ansiedade s mesmo antes de estes serem expressos abertamente.

Isso significa que ela está sensível às manifestações da vida da criança; ela não está ansiosa nem preocupada, mas num estado de equilíbrio e de alerta.

Qualidades específicas necessárias para amar.

A principal condição para se atingir o amor é a capacidade de ultrapassar o narcisismo. A personalidade narcísica só considera real aquilo que existe em si; os fenómenos do mundo exterior não têm qualquer realidade em si, mas são vistos apenas como sendo úteis ou perigosos para o eu.

O pólo oposto ao do narcisismo é o da objectividade. Todos nós temos uma visão subjectiva do mundo, distorcido pela nossa tendência narcísica.

A razão é aquilo que nos permite pensar de forma objectiva e a atitude emocional subjacente à razão é a humildade. Ser objectivo e racional só é possível a quem tenha uma atitude humilde e tenha abandonado os sonhos infantis de omnisciência e omnipotência.

No que diz respeito à arte de amar, isto significa que o amor implica o desenvolvimento da humildade, da objectividade e da razão.

A humildade e a objectividade são indivisíveis, tal como o amor.

Se quero aprender a arte de amar, devo tentar ser objectivo em qualquer situação e reparar naqueles casos em que não consigo sê-lo.

Ser capaz de ser objectivo e racional é meio caminho andado para aprender a amar.

A capacidade de amar depende da capacidade de ultrapassar o narcisismo; depende da nossa capacidade de crescer, de desenvolver uma orientação produtiva na nossa relação com o mundo e connosco mesmos. Este processo de libertação pressupõe a fé.

O que é a Fé?

Temos que distinguir a fé racional da fé irracional. A fé irracional, consiste numa crença, em algo ou em alguém que se baseia na submissão a uma autoridade irracional. A fé racional é uma crença que está enraizada na nossa experiência do pensamento e do afecto, uma questão de ter certezas e convicções firmes. A fé é uma característica da personalidade na sua totalidade, mais do que uma crença específica.

Na esfera das relações humanas, a fé é uma qualidade indispensável para qualquer amizade importante ou para qualquer relação amorosa.

“Ter fé” noutra pessoa significa ter a certeza que as suas atitudes fundamentais a sua personalidade e o seu amor são fiáveis e inevitáveis; que pode mudar de opinião, mas que as suas convicções de base serão as mesmas.

Só quem têm fé em si mesmo é capaz de ser fiel aos outros. A fé em si mesmo é o que permite que se tenha a capacidade de fazer promessas.Ter fé, significa acreditar também nas competências dos outros. A fé nos outros tem o seu ponto alto na fé na humanidade.

A fé irracional tem por base a submissão a um poder que é sentido como sendo imensamente forte e na renúncia do poder e da força de cada um. A fé racional baseia-se na experiência contrária, resulta da experiência e do pensamento de cada um.

Ter fé requer coragem, a capacidade de correr riscos e de aceitar a dor e a desilusão.

Amar e ser amado requer coragem, a coragem de acreditar em certos valores, de arriscar e apostar tudo nesses valores.

A prática da fé e da coragem começa com os pequenos pormenores da vida quotidiana.

Amar significa comprometer-se sem garantias, entregar-se completamente, na esperança de que o nosso amor faça com que a pessoa amada nos ame também. O amor é um acto de fé e quem tem pouca fé também tem pouco amor.

A actividade é uma atitude indispensável para a prática da arte de amar.

“O amor é uma actividade; se eu amar, estarei num estado constante de preocupação activa com a pessoa amada. Eu serei incapaz de me relacionar activamente com a pessoa amada se for preguiçoso”.

“A arte de amar está inevitavelmente relacionada com o domínio social. Se amar significa ter uma atitude de amor em relação a todos, se o amor é uma característica da personalidade, então ele deve existir não só na nossa relação com a família e os amigos, mas também com os nossos colegas de trabalho”.

“Chega-se a Conclusão que falar de amor hoje em dia, é participar de uma grande fraude; diz-se que, neste mundo, só um mártir ou um louco pode amar e que por isso, a discussão sobre o amor é apenas uma falsa moralização”.

“Quem for capaz de amar, hoje em dia, é necessariamente uma excepção à regra; o amor é, necessariamente, um fenómeno marginal na sociedade ocidental contemporânea. E não é por estarmos demasiado ocupados que não temos uma atitude de amor pelo próximo”.

26.1.07

Seguimento do estilo de celibato - Consagração

2. A vida virginal que abraçou a mãe virgem de Jesus.
. Maria é para a Vida Religiosa exemplo de virgindade ou de castidade consagrada (Cf. Lc 1, 34-37).
. Maria viveu também a sua virgindade em referência permanente à maternidade: primeiro sobre Jesus, depois sobre os discípulos.

3. Celibato cristão: não imitação mas consagração ao Senhor. O caso de Corinto.
. O objectivo de 1Cor 7 é discernir sobre o pôr em prática do ideal da continência sexual e do celibato.
. Com a nova época aberta com Jesus encontra-se uma nova forma de vida: a vida em continência perfeita.
. Motivos (segundo Paulo) para assumir a continência perfeita:
- Agradar ao Senhor;
- Preocupar-se com o Senhor e as coisas do Senhor;
- Dedicar-se ao trato assíduo com o Senhor;
- Consciencializar-se que as coisas deste mundo são passageiras.
. Paulo fala então num celibato (que ele mesmo vivia) não de seguimento ou imitação mas de consagração e dedicação.
. Paulo sabe e defende que fomos chamados à liberdade porque Jesus é o nosso único Senhor.

15.1.07

Seguimento do estilo de celibato - Virgindade de Jesus

Jesus é o primeiro iniciador e modelo do celibato.
Maria é a primícia da virgindade. (Orígenes)
O Celibato na Vida Religiosa é experiemntado como um carisma de seguimento de Jesus.
Virgindade é a vivência peculiar de união e identificação com Jesus e participação da mesma condição virginal do Ressuscitado e da sua antecipação profética no Jesus histórico.
1 - Vida em celibato a que Jesus se sentiu chamado
a) Eunuco pelo Reino dos Céus
Mt 19, 12 - Jesus defendeu os eunucos que se fazem pelo Reino de Deus porque são movidos pela experiência do Reino.
b) A família de Jesus
A Sua nova família é uma comunidade de eleitos, de discípulos e seguidores ao serviço do Reino.
A forma de vida em celibato ou virgindade dentro da Igreja, tem seu iniciador mais apreciado no mesmo Jesus e naqueles que assumiram na sua vida este estilo permanente de viver.
c) Que pensava Jesus sobre o celibato?
Celibato como forma de vida definitiva
O abandonar a mulher (o amar menos) - o que se trata aqui é o primado do próprio Jesus na vida dos discípulos e não outras interpretações.
d) Outra perspectiva: o Corpo de Jesus e a sua fidelidade à aliança
O celibato de Jesus é símbolo e parábola do Reino.
O Reino para Jesus é a sua grande missao histórica, o motivo da Sua Encarnação